sexta-feira, 2 de outubro de 2009

QUE FOI VICTOR HUGO

Filho de Joseph Hugo e de Sophie Trébuchet, nasceu em Besançon, no Doubs, mas passou a infância em Paris. Estadas em Nápoles e na Espanha acabaram por influenciar profundamente sua obra. Funda com os seus irmãos em 1819 uma revista, o Conservateur littéraire (Conservador literário), que já chama a atenção para o seu talento. No mesmo ano, ganha o concurso da Académie des Jeux Floraux.

O seu primeiro recolhimento de poemas, Odes, é publicado em 1822: tem então vinte e sete anos.

Com Cromwell, publicado em 1827, alcança o sucesso. No prefácio deste drama em versos, que não foi encenado enquanto esteve vivo, opõe-se às convenções clássicas, em especial à unidade de tempo e à unidade de lugar.

Tem, até uma idade avançada, diversas amantes, sendo a mais famosa Juliette Drouet, atriz sem talento que lhe dedica a sua vida, e a quem ele escreve numerosos poemas. Ambos passavam juntos o aniversário do seu encontro e preenchiam, nesta ocasião, ano após ano, um caderno comum que nomeavam o Livro do aniversário.

Alugava apartamentos nos arredores de Paris com nomes falsos, onde encontrava-se com suas amantes. Numa dessas ocasiões foi flagradocom Léonie Briard, cujo o marido havia chamado a polícia, a mulher foi presa, quanto a Victor Hugo nada ocorreu-lhe.[1]

Exílio em Jersey (1853-55)

Criado por sua mãe no espírito da monarquia, acaba por se convencer, pouco a pouco, do interesse da democracia ("Cresci", escreve num poema onde se justifica). A sua ideia é que "onde o conhecimento está apenas num homem, a monarquia se impõe." "Onde está num grupo de homens, deve fazer lugar à aristocracia. E quando todos têm acesso às luzes do saber, então vem o tempo da democracia".

Tendo se tornado favorável a uma democracia liberal e humanitária, é eleito deputado da Segunda República em 1848, e apoia a candidatura do príncipe Louis-Napoléon.

O enterro de Victor Hugo, em 1885.

Exila-se após o golpe de Estado de 2 de Dezembro de 1851, que condena vigorosamente por razões morais em "Histoire d'un crime".

Durante o Segundo Império, em oposição a Napoléon III, vive em exílio em Jersey, Guernsey e Bruxelas. É um dos únicos proscritos a recusar a anistia decidida algum tempo depois: « Et s'il n'en reste qu'un, je serai celui-là » ("e se sobra apenas um, serei eu").

Com a morte da sua filha, Leopoldina, começa a descobrir e investigar experiências espíritas relatadas numa obra diferente nomeada "Les tables tournantes de Jersey".

De acordo com seu último desejo, seu corpo é depositado em um caixão humilde que é enterrado no Panthéon.

Tendo ficado vários dias exposto sob o Arco do Triunfo, estima-se que 1 milhão de pessoas vieram lhe prestar uma última homenagem. Quando morreu as prostitutas de Paris ficaram de luto.[1]

Pensamento político

Caricatura de Victor Hugo no ponto máximo de sua carreira política, por Honoré Daumier, (1849)

A partir de 1849, Victor Hugo dedica um quarto da sua obra à política, um quarto à religião e outro à Filosofia humana e social. Se o pensamento de Victor Hugo pode parecer complexo e às vezes contraditório, não se pode dizer que seja monoteísta.

Sempre um reformista, envolve-se em política por toda a sua vida. Mas se critica as misérias sociais, não adota o discurso socialista da luta de classes. Pelo contrário, ele próprio viveu uma vida financeiramente confortável, construída com seus próprios esforços, tornando-se um dos escritores mais bem remunerados de sua época. Acreditava no direito do homem usufruir dos frutos do seu trabalho, embora reforçasse a responsabilidade que acompanha o enriquecimento pessoal. Desse modo, sempre buscou prosperar enquanto doava uma parte significativa de sua renda para diferentes obras de caridades.

Seu principal romance, os Miseráveis, narra a história de um self made-man, Jean Valjean, um sujeito que foge da prisão e reconstrói sua vida através do trabalho. Valjean monta uma empresa e, através dela, traz prosperidade para a sua região; além disso, usa sua fortuna em obras de caridade para ajudar os pobres. Suas boas obras são interrompedias apenas quando um policial - um agente do Estado - decide interferir arbitrariamente nas atividades privadas da sociedade civil.

Os Miseráveis, portanto, traz claramente a filosofia política de Victor Hugo. É um mundo onde há cooperação - e não luta - entre as classes; onde o empreendedor desempenha um função essencialmente benéfica para todos; onde o trabalho é a via principal de aprimoramente pessoal e social; onde a intervenção estatal por motivos moralista - seja do policial ou do revolucionário obcecado pela justiça terrena - é um dos principais riscos para o bem de todos que será gerado espontaneamente pelos indivíduos privados.

Ele também se opõe à violência quando ela se aplica contra um poder democrático, mas a justifica (conforme à Declaração dos direitos do homem) contra um poder ilegítimo. É assim que, em 1851, lança um chamado à luta - "carregar seu fuzil e ficar preparado" - que não é seguido. Mantém esta posição até 1870, quando começa a Guerra Franco-Prussiana; Hugo a condena: "guerra de capricho" e não de liberdade.

Em seguida, o império é deposto e a guerra continua, desta vez contra a república; o argumento de Hugo em favor da fraternização resta, ainda, sem resposta. É assim que, em 17 de Setembro, publica uma chamada ao levantamento de massa e à resistência. Os republicanos moderados ficam horrorizados: preferem Bismarck aos "socialistas"! A população de Paris, no entanto, se mobiliza e lê avidamente Les Châtiments. (Ver Comuna de Paris).

Escultura de Victor Hugo, por Rodin.

Coerente, Hugo não podia ser comunista: "O significado da Comuna é imenso, ela poderia fazer grandes coisas, mas na verdade faz somente pequenas coisas. E pequenas coisas que são odiosas, é lamentável. Compreendam-me: sou um homem de revolução. Aceito, assim, as grandes necessidades, mas somente sob uma condição: que sejam a confirmação dos princípios e não o seu desrespeito. Todo o meu pensamento oscila entre dois pólos: civilização-revolução "." A construção de uma sociedade igualitária só será possível se for conseqüência de uma recomposição da sociedade liberal."

No entanto, diante da repressão que se abate sobre os comunistas, o poeta declara seu desgosto: "Alguns bandidos mataram 64 reféns. Replica-se matando 6000 prisioneiros!".

Denunciando até o fim a segregação social, Hugo declara durante a última reunião pública que preside: "A questão social perdura. Ela é terrível, mas é simples: é a questão dos que têm e dos que não têm!". Tratava-se precisamente de recolher fundos para permitir a 126 delegados operários a viagem ao primeiro Congresso socialista da França, em Marselha.

Victor Hugo, no entanto, nunca aceitou o discurso socialista. Ele acreditava que uma sociedade aberta encontraria soluções para seus problemas. Mais que isso, ele era contra políticas de redistribuição de riquezas, pois o efeito dessas seria desincentivar a produção, fazendo com que toda a sociedade caminhasse para trás. Caso fosse permitida a liberdade de comércio, por outro lado, e caso se tolerasse algum grau de desigualdade social, o resultado - largamente comprovado pela história posterior - seria o progresso geral de todos, beneficiando inclusive os membros mais pobres da sociedade. Portanto, a defesa de um ordem que permita o progresso é benéfica para todos, e não para uma classe específica.

"O comunismo e o agrarianismo acreditam que resolveram este segundo problema [da distribuição de renda], mas estão enganados: a distribuição destrói a produtividade. A repartição em partes iguais mata a ambição e, por conseqüência, o trabalho. É uma distribuição de açogueiros, que mata aquilo que reparte. Portanto, é impossível tomar essas pretensas soluções como princípio. Destruir riqueza não é distribuí-la".

Está pois a pena de morte abolida nesse nobre Portugal, pequeno povo que tem uma grande história. (…) Felicito a vossa nação. Portugal dá o exemplo à Europa. Desfrutai de antemão essa imensa glória. A Europa imitará Portugal. Morte à morte! Guerra à guerra! Viva a vida! Ódio ao ódio. A liberdade é uma cidade imensa da qual todos somos concidadãos
Victor Hugo, 1876, a propósito da abolição da pena de morte em Portugal (o primeiro país europeu a fazê-lo).

Discursos

Victor Hugo pronunciou durante a sua carreira política quatro grandes discursos:

Extratos

Argumentação contra a proibição de "Marion Delorme"

"Este século produziu apenas uma grande coisa, a liberdade, e produziu apenas um grande homem, Napoleão. Não temos mais um grande homem. Tentemos ao menos manter a grande coisa."

Diálogo entre Combeferre e Enjolras em "Os Miseráveis"

Combeferre, em posição próxima a Enjolras, percebeu esse rapaz.

"Que pena!" disse Combeferre.
"Quão abominável esse banho de sangue é! Tenho certeza de que quando não houver mais reis, não haverá mais guerra. Enjolras, você está a mirar naquele sargento, não a contemplá-lo. Pense que ele é um belo jovem; ele é intrépido; percebe-se que ele é um pensador; esses jovens artilheiros são bem instruídos; ele tem um pai, uma mãe, uma família; ele ama alguém, provavelmente; ele tem no máximo vinte e cinco anos; ele poderia ser seu irmão."

"Ele é" diz Enjolras.

Obra

Retrato de "Cosette" por Emile Bayard, da edição original deLes Misérables (1862)
Ilustração de Alfred Barbou, para Notre-Dame de Paris: o corcunda Quasímodo escala a catedral.
Desenho de Victor Hugo: Le Rocher de l'Ermitage dans un paysage imaginaire, 1855.
Desenho de Victor Hugo: Polvo com as Iniciais V.H., 1866.
Desenho de Victor Hugo, Por de sol (1853-1855).
  • Odes et Poésies Diverses (1822)
  • Nouvelles Odes (1824)
  • Bug-Jargal (1826)
  • Odes et Ballades (1826)
  • Cromwell (1827)
  • Les Orientales (1829)
  • Le Dernier jour d'un condamné (1829)
  • Hernani (1830)
  • Notre-Dame de Paris Nossa Senhora de Paris (1831)
  • Marion Delorme (1831)
  • Les Feuilles d'automne
  • Le Roi s'amuse (1832)
  • Lucrèce Borgia (1833)
  • Marie Tudor (1833)
  • Étude sur Mirabeau (1834)
  • Littérature et philosophie mêlées (1834)
  • Claude Gueux (1834)
  • Angelo (1835)
  • Les Chants du crépuscule (1835)
  • Les Voix intérieures (1837)
  • Ruy Blas (1838)
  • Les Rayons et les ombres (1840)
  • Le Rhin (1842)
  • Les Burgraves (1843)
  • Napoléon le Petit (1852)
  • Les Châtiments (1853)
  • Lettres à Louis Bonaparte (1855)
  • Les Contemplations (1856)
  • La Légende des siècles (1859)
  • Les Misérables (1862)
  • William Shakespeare (1864)
  • Les Chansons des rues et des bois (1865)
  • Les Travailleurs de la Mer (1866)
  • Paris-Guide (1867)
  • L'Homme qui rit (1869)
  • L'Année terrible (1872)
  • Quatrevingt-treize (1874)
  • Mes Fils (1874)
  • Actes et paroles - Avant l'exil (1875)
  • Actes et paroles - Pendant l'exil (1875)
  • Actes et paroles - Depuis l'exil (1876)
  • La Légende des Siècles 2e série (1877)
  • L'Art d'être grand-père (1877)
  • Histoire d'un crime - 1re partie (1877)
  • Histoire d'un crime - 2e partie (1878)
  • Le Pape (1878)
  • Vie ou de Mort (1875)
  • Religions et religion (1880)
  • L'Âne (1880)
  • Les Quatre vents de l'esprit (1881)
  • Torquemada (1882)
  • La Légende des siècles - Tome III (1883)
  • L'Archipel de la Manche (1883)
  • Œuvres posthumes
  • Théâtre en liberté (1886)
  • La fin de Satan (1886)
  • Choses vues - 1re série (1887)
  • Toute la lyre (1888)
  • Alpes et Pyrénées (1890)
  • Dieu (1891)
  • France et Belgique (1892)
  • Toute la lyre - nouvelle série (1893)
  • Correspondances - Tome I (1896)
  • Correspondances - Tome II (1898)
  • Les années funestes (1898)
  • Choses vues - 2e série (1900)
  • Post-scriptum de ma vie (1901)
  • Dernière Gerbe (1902)
  • Mille francs de récompense (1934)
  • Océan. Tas de pierres (1942)
  • Pierres (1951)
  • Mélancholia

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